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O Leite Derramado

Há muito tempo venho aprendendo a não chorar o leite derramado.




Não chorar não significa não sentir – muito pelo contrário! -, significa não se derramar ainda mais sobre algo que passou, melou, marcou e é irremediável. Lágrimas não vão apagar a mancha de leite no piso. Ele está lá, refletindo o rosto de quem olhar. Sentimos o pesar de todas as possibilidades que poderiam ter sido e jamais serão, de todos os "Eu's" não-nascidos naquele instante e podemos até derramar uma ou duas lágrimas diante do fechar dessas possibilidades - talvez nem tão desejadas.


No fim, não tem como saber o que é sorte ou azar. Um acontecimento super empolgante pode terminar em tragédia, uma tragédia pode trazer uma luz maravilhosa; Yin Yang.


Mais que misticismo: a sombra na luz, a luz na sombra.


Sim, às vezes a luz é só luz mesmo, às vezes a sombra é só sombra também. Mas isso é mais incomum que se pensa, na minha experiência.


O leite derramou, e agora? Agora é limpar. Agora: toda palavra que há.


Há ainda quem chore pelo leite não derramado: por aquela atitude não tomada, por aquele medo que paralisou, por não ir atrás do que sentiu e confiou em detrimento de um ponto de vista alheio. Tampouco adiantam lágrimas: o leite não derramou, mas certamente sua boca também não o tocou.


O leite escapou de nossas mãos (ou mesmo o demos a outrem; ou deixamos que o retirassem de nós - não importa). Ele não está mais aqui, mas nós estamos. Aqui: a todo instante que há.


Aqui e Agora: se quer fazer algo esse é o momento; não semana que vem na casa de Binha, não ano passado na festa de Zé.


Como vêm, as coisas vão. O presente um dia será passado e o futuro não será como pensamos. Tudo muda a todo instante.


Mais que se agarrar naquilo que passou - o vaso já quebrou, o leite já esparramou no chão - que tal se nos voltássemos para o vaso ao qual devemos cuidar com tanto carinho: nós mesmos?


Como anda o seu cuidado consigo mesmo?


Embora tudo passe - e nós também, um dia, passaremos - podemos influenciar como será a nossa estadia nos nossos "aquis e agoras". Litros e mais litros de leite podem nos escapar os lábios, mas será tudo tão ruim assim?


Talvez seja o momento de investir em uma psicoterapia, o que acha?




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